O mercado dos EUA está mostrando resiliência e crescendo em meio à incerteza. O otimismo é frágil, e cada nova divulgação de dados macroeconômicos é como um lance de dados. É bem possível que haja mais crescimento nos índices em meio às expectativas de retórica dovish da Reserva Federal. Entretanto, é importante não esquecer que, se a inflação surpreender positivamente, o mercado poderá sofrer uma forte reversão.
A próxima semana não é apenas uma contagem regressiva para a reunião do Fed, é um período crucial que pode definir o tom de todo o verão no mercado de ações.
Até agora, o mercado de ações dos EUA encerrou a semana passada com uma nota forte, apesar de um cenário macroeconômico complicado. O índice S&P 500 subiu 1,5% durante a semana. O Nasdaq 100 registrou um ganho de 2%. O Dow Jones, que é mais industrial e conservador, subiu 1,2%.
O que está impulsionando esse crescimento?
Talvez o principal paradoxo da semana passada tenha sido o fato de os mercados terem subido mesmo diante de dados macroeconômicos fracos, porém não desastrosos. O relatório de folhas de pagamento não agrícolas de maio ficou ligeiramente acima das expectativas — 139.000 vagas criadas, contra a previsão de 126.000 —, mas ainda assim abaixo da leitura anterior, de 147.000. A taxa de desemprego manteve-se estável em 4,2%, enquanto os salários cresceram mais rápido do que o esperado, a 3,9% em relação ao ano anterior.
Em condições normais, isso seria motivo de preocupação. Contudo, hoje serve como razão para acreditar que o Fed permanecerá em modo de espera, adotando uma postura "wait and see".
A atividade comercial também não inspira confiança. Os índices ISM de manufatura e serviços continuam a indicar desaceleração. O setor industrial caiu para 48,5 (ante uma previsão de 49,3), enquanto o setor de serviços recuou para 49,9, abaixo do limite crítico de 50 pontos que separa expansão de contração.
Ainda assim, os mercados ignoraram esses dados. Os investidores apostam que o enfraquecimento econômico levará a uma futura flexibilização monetária.
Outro apoio veio do Banco Central Europeu, que cortou as taxas em 0,25 ponto percentual e sinalizou que o ciclo de flexibilização pode estar se aproximando do fim. Embora essa decisão tenha pouco impacto direto nos EUA, reforçou as expectativas globais de crédito mais barato.
O que podemos observar nos próximos dias
A próxima semana promete ser agitada. Na segunda-feira, serão divulgados os dados de inflação e comércio exterior da China. Já na quarta-feira, os holofotes se voltam para o IPC dos EUA — o principal indicador a ser observado, inclusive por quem normalmente não acompanha estatísticas macroeconômicas.
Na quinta-feira, será apresentado o relatório do PPI, e na sexta-feira serão divulgados os dados da Universidade de Michigan sobre o sentimento do consumidor e as expectativas de inflação. Esses relatórios funcionam como uma preparação direta para a reunião do Federal Reserve, marcada para os dias 17 e 18 de junho.
Caso o IPC venha mais alto do que o esperado, o sentimento do mercado poderá mudar drasticamente. Atualmente, os mercados estão em um equilíbrio delicado entre a expectativa de uma política dovish e o receio de um ressurgimento da pressão inflacionária.
Se os dados forem neutros, o caminho para 6.130 pontos no S&P 500 permanecerá aberto. Mas, se os números decepcionarem, a realização de lucros pode começar rapidamente.
Análise técnica
O índice S&P 500 fechou a semana exatamente em um nível psicológico importante. Esse é um limite significativo, tanto técnica quanto simbolicamente. O suporte está na zona de 5.900-5.920, enquanto a resistência mais próxima está em 6.130.
Um rompimento acima de 6.000 com forte volume sinalizaria um crescimento contínuo. No entanto, o RSI está se aproximando do território de sobrecompra e, no caso de dados macroeconômicos negativos, um recuo para 5.850-5.800 pode ocorrer, onde está localizado o sólido suporte do início de maio.
O Nasdaq 100 continua a se mover em um canal ascendente. A resistência está em 22.000, e um teste desse nível pode ocorrer já na próxima semana, se os dados do IPC forem fortes. Um rompimento confirmado definiria o alvo técnico em 22.500. O suporte está em 21.400, seguido por 21.000.
No entanto, o RSI já está acima de 70, indicando um mercado superaquecido - especialmente após a recente alta de 25% na Nvidia e em outros grandes nomes.
O triunfo do setor de tecnologia: quem impulsiona o mercado para cima
Enquanto o S&P 500 e o Nasdaq 100 avançam para novos máximos, vários campeões internos estão surgindo no setor de tecnologia. Três pesos pesados se destacaram na semana passada: Oracle, NVIDIA e Cisco.
Cada uma delas demonstrou fortes ganhos, com catalisadores e perfis de risco exclusivos. Vamos examinar se a recuperação tem mais espaço para continuar ou se é hora de ser cauteloso.
Oracle (+5,1%) - otimismo cauteloso antes dos lucros
As ações da Oracle continuam a subir de forma constante, ganhando 5,1% na última semana e atingindo novos máximos locais. Isso marca a segunda onda consecutiva de crescimento. As ações estão agora se aproximando de um nível de resistência importante de US$ 180, um nível que historicamente tem desencadeado reversões.
Enquanto isso, o RSI(14) indica condições de sobrecompra, um sinal de alerta notável. O mercado está antecipando notícias e se preparando para a volatilidade.
O principal evento futuro é o relatório de lucros trimestrais da empresa, programado para 11 de junho, após o fechamento da sessão dos EUA. Segundo a Barron's, os analistas esperam um lucro por ação de US$ 1,64 — abaixo da previsão de US$ 1,78 feita há 90 dias.
Essa redução pode jogar a favor da Oracle: uma surpresa positiva provavelmente será bem recebida pelo mercado. A meta de preço consensual é de US$ 178, mas se o relatório superar as expectativas, um rompimento acima de US$ 180 é totalmente plausível.
NVIDIA (+4,9%) — superaquecida, mas ainda puxa o mercado
O rei da IA e das GPUs voltou à ação. Na semana passada, as ações da NVIDIA subiram 4,9%, atingindo um nível de resistência chave em US$ 142. No último mês, as ações ganharam 25%, um desempenho impressionante, mas que parece instável sem novos catalisadores.
O relatório trimestral de lucros da semana passada superou as expectativas: a receita cresceu 69% em relação ao ano anterior, e as margens permaneceram sólidas. No entanto, os investidores ficaram um pouco decepcionados com a orientação para o trimestre atual — menos ambiciosa. Embora isso não seja motivo para uma liquidação, também não serve de combustível para uma aceleração maior.
Se as ações ultrapassarem os US$ 142 com volume forte, a próxima parada será em US$ 150, e esse movimento poderá ocorrer rapidamente. O potencial de alta a partir do nível de 6 de junho é de cerca de 6%. No entanto, a condição de sobrecompra e a base já elevada após o forte relatório criam um terreno fértil para realização de lucros a qualquer momento.
Cisco (+4,8%) — velho gigante com novo impulso
A Cisco reapareceu como um gigante silencioso que voltou ao radar dos investidores. As ações subiram 4,8% e estão próximas da alta anual de US$ 66,50. O índice RSI indica condições de sobrecompra, mas ainda sem atingir nível crítico.
Se ocorrer um rompimento consistente, a meta passará para US$ 71, segundo o consenso dos analistas da Barron's — o que implica uma alta de cerca de 8%.
Em maio, a Cisco divulgou lucros do terceiro trimestre fiscal que superaram expectativas e apresentou uma perspectiva de receita otimista. Um impulso adicional veio de acordos estratégicos no Oriente Médio: a empresa foi contratada para implantar infraestrutura de nuvem na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos, com foco em inteligência artificial.
Essa não é apenas uma expansão dos negócios, mas um esforço para redefinir o papel da Cisco no cenário tecnológico emergente.